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XADREZ É ESPORTE DE HOMEM? A INFLUÊNCIA DAS MULHERES NO TABULEIRO

Publicado quinta, 08 de outubro de 2020





Caros leitores, passamos por um momento da história humana onde paradigmas e preconceitos são quebrados diariamente graças a pessoas que focam em seus ideais, não apenas por uma causa própria, mas pelo bem comum.

Nesta semana convidei as meninas do Xadrez, como chamamos aqui em Guaxupé as mulheres que treinam, estudam, batalham por espaço entre as melhores da cidade e região: Lara Gordiano, Lais Nascimento e Manuella de Azevedo.

Para quem não conhece a história do Xadrez feminino, temos Judit Polgar como estrela. Segundo o site do GM Rafael Leitão Judit já esteve entre os dos dez melhores do mundo, isso mesmo, “os dez”, pois competia junto aos Grandes Mestres (homens) da época. A húngara que aos 15 teve o feito de ser a mais jovem Grande Mestre do século, teria em seu ápice de carreira uma vitória em 2001 contra o número 1 do ranking mundial masculino, Garry Kasparov.

Um ótimo filme para você que não conhece o Xadrez, em especial o feminino é Rainha de Katwe, do Autor Tim Crothers, nele uma menina africana luta contra o sistema e contra todos junto ao seu professor para se tornar Mestre.

Em se tratando de nível regional, em 2019 Guaxupé conseguiu com uma equipe Sub15 ser vice-campeã dos jogos da Amog, ficando atrás apenas da equipe de Monte Belo, basicamente, uma equipe de idade similar. Em nossa região com os incentivos do projeto LEX Liga e outros temos uma média de 30% de mulheres dentre os enxadristas, o que nos deixa bem acima da média global. Segundo o site Xadrez do Brasil, entre os 300 melhores jogadores do mundo só existem 3 mulheres, ou seja, 1%!

 

-PORQUE O NÚMERO DE MULHERES QUE PRATICAM O XADREZ É MENOR QUE O NÚMERO DE HOMENS?

Lara Gordiano – Desde a era mediável mulheres não podiam jogar Xadrez, pois era um jogo dos “Reis”, como nesta época a sociedade era ainda mais machista praticamente inexistiam mulheres enxadristas.  Além disso, muitas pessoas não sabem a importância da modalidade e que muito além de um jogo o Xadrez é: esporte, arte e ciência.

Lais Nascimento - Um dos fatores é a falta de mais mulheres que possam criar conteúdo e estimular outras mulheres a prática. Isso desmotiva as jovens.

Manuella de Azevedo- É muito fraca a divulgação do Xadrez nos meios de comunição e pior ainda a divulgação da categoria feminina.

 

-JÁ ACONTECEU DE ALGUM HOMEM MENOSPREZAR, DESRESPEITAR OU SER PRECONCEITUOSO APENAS POR VOCÊS SEREM MULHERES?

Lara Gordiano – Até em torneios escolares é comum ao ser emparceirada com meninos percebermos certo desprezo em nosso jogo e conhecimento. É algo não apenas para se julgar, precisamos desconstruir essa ideia machista e ter igualdade de gênero em todos os esportes.

Lais Nascimento – Já me subestimaram algumas vezes por ser mulher, no tabuleiro, mas é no tabuleiro que a gente mostra o que sabe fazer.

Manuella de Azevedo – Já ouvi em alguns torneios cochichos e brincadeiras quando joguei com meninos. Diziam que ia ser fácil e tal, mas após uma bela vitória não precisei dizer mais nada!

 

- COMO ESTÃO SE SAINDO NO XADREZ FEMININO EM NOSSA REGIÃO E QUAL A SAIDA PARA TERMOS MAIS ENXADRISTAS MULHERES?

-Manuella de Azevedo – Como sou mais nova fico ansiosa nas partidas, tanto presencial quanto online, mas estou amando jogar Xadrez, estudo e me preocupo por cada ponto conquistado. Depende muito de nós, mulheres enxadristas, incentivar outras meninas a pratica do Xadrez.

-Lais Nascimento – Os torneios femininos estão emocionantes, as mais novas estão equilibrando o nível. Precisamos motivar as iniciantes, é responsabilidade nossa seguir apoiando e mais meninas. Outra coisa a mencionar é sobre nossos governantes e da sociedade em si, pois no país infelizmente só  dá valor ao futebol, em alguns países o Xadrez é inclusive parte da nota da matéria de matemática e é utilizado para melhorar o raciocínio lógico dos alunos.

-Lara Gordiano – Apesar de sermos minoria, estamos mostrando a nossa força. Em especial este ano com a criação de torneios exclusivos femininos temos a sensação de rivalidade por competir entre as mulheres e definir quem é a melhor. De forma saudável a competição nos motiva a estudar e a crescer. Mudei de escola no último ano e percebi o quanto ainda o Xadrez é desconhecido pela sociedade, pois muitos colegas de classe julgam o Xadrez como um mero jogo de tabuleiro e não como esporte competitivo. Precisamos ensinar a modalidade ao máximo de pessoas para mostrar seus benefícios e sua democraticidade

 

-QUAL A PARTIDA QUE MAIS TE MARCOU ATÉ HOJE?

Lais Nascimento – A minha vitória contra Heitor Moreira, pelo Campeonato Guaxupeano de 2019. Heitor é muito forte, mas no dia senti que poderia ganhar. Por ter toda uma expectativa antes do jogo me marcou bastante esta partida.

Manuella de Azevedo – Minha última partida pela Copa GXP contra a Lara Gordiano, eu me senti confortável no jogo, pois estava defendendo (de pretas) com algo que havia estudado e consegui calcular lances que a alguns meses não calculava.

Lara Gordiano – Nos Jogos Estudantis de 2019 joguei contra o Enzo Diniz, ótimo jogador. Foi por um detalhe, um peão apenas e quando estava para promover percebeu que eu estava ganha na posição.

 

-PARA TERMINARMOS A ENTREVISTA, O QUE TE FEZ INTERESSAR NO XADREZ?

Lara Gordiano – Eu tinha certa resistência ao Xadrez, treinava Handebol, tinha o mesmo pensamento da maioria, achava que o jogo era chato e monótono, mas após a insistência do meu professor e da minha mãe fui a uma aula. O desafio de ter que ser mais esperta, focada e estudar mais que meus adversários me fez amar o Xadrez. Outra coisa que achei legal é a sensação de individualidade da modalidade, pois na derrota ou a vitória sou eu a responsável, e por fim a igualdade e respeito que o Xadrez ensina, afinal, o Rei e Peão vão pra mesma caixa no final do jogo!

Lais Nascimento – Algumas amigas treinavam a modalidade na minha escola, eu aprendi o básico para jogar com elas. O desafio de conseguir ganhar delas e a percepção do tamanho que é o jogo de Xadrez ao conhecer aberturas e outras coisas me fez continuar. Outra motivação que tive é de poder estar na estante de medalhas e troféus que o meu professor tem dos alunos campeções.

Manuella de Azevedo – Eu também tinha uma amiga de sala que sabia jogar e que me convidou para treinar. Eu gostei muito da maneira que meu professor explicava o conteúdo, com calma, me dava atenção para que realmente eu aprendesse. Hoje o que me motiva sou eu mesma, consegui com o Xadrez a tomar mais decisões e entender a responsabilidade de cada uma delas.

Espero que tenham gostado da entrevista e que a partir de hoje quando ouvir falar de mulheres no Xadrez ou em outros esportes possam não só respeitar, mas ter o cuidado de perceber que elas mudaram, mudam e mudarão o mundo com seu modo de agir. E que a melhor forma de se dirigir uma mulher é tratá-la com o respeito que você gostaria que tratassem a sua mãe ou irmã

Quem quiser conhecer um pouco mais do nosso projeto escolar acesse: http://www.lexliga.com.br

 

Alan Marks – Coordenador da Liga Escolar de Xadrez Brasil


COLUNISTA
Alan Marks é formado em Educação Física UNIFEG, Instrutor e Treinador de Xadrez-CXOL, Coordenador LEX Liga Brasil, Professor-Colégio Objetivo Instrutor de Xadrez-Escola Coronel e PHD


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