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CONVERSA SENSORIAL: DESENHANDO O MUNDO

Publicado segunda, 20 de dezembro de 2021





Carência de contato ou ausência de tato é o mesmo que restrições psicossomáticas, e essas ausências de aconchego, afeto e ternura produzem seres humanos inseguros, ansiosos, teimosos, supersticiosos, confusos, sarcásticos e até melancólicos, apáticos, depressivos, oprimidos e violentos.

Já no contato afetuoso e respeitoso de pele com pele, pais fazendo carinho no bebê, começa aí uma espécie de diálogo sensorial, onde então o novo ser humano vai edificando a sua realidade, vai se sentindo fortalecido, vai se percebendo um ser vivo, com vontade de viver, um ser único, e em relação de proximidade com a vida que o rodeia.

O toque é, para nós mamíferos, necessidade comportamental básica, vital. Preserva nossa saúde e inibe impulsos de destruição pessoal ou coletiva. Favorece o altruísmo, a partilha, na medida em que vai bloqueando o egoísmo.

O tato é uma troca, é um gesto colaborativo – nos dá consciência, sensibilidade, serenidade, inteligência, equilíbrio, harmonia, alegria e paz. Renova a nossa fé. Alimenta a nossa esperança numa convivência cada vez melhor e mais simples.

As mãos habilidosas e respeitosas vão comunicando amor.

Toda essa proximidade é um presente que nos dá percepção de transcendência! O indivíduo passa a ter maior e melhor consciência de si e do outro.

Mas como está sendo vivida a nossa rotina?

Começa o dia, e já se iniciam em nós as nossas distrações, chamadas civilizadamente de obrigações. Vamos logo fazendo um montão de coisas, menos dar atenção ao essencial. O essencial segue não notado, despercebido, ignorado, negligenciado.

O que é o essencial? O essencial é olhar para alguém. Sorrir. Abraçar. Dialogar serenamente. Observar também a sutil presença da natureza. O pulsar da vida! O respirar da vida! Orar, meditar, contemplar, agradecer. Quem é que está fazendo isso hoje?

Note que o “remédio” para os nossos desconfortos pessoais, familiares, comunitários e sociais, produzidos pelas ausências táteis desde a mais tenra infância, não se restringe às carícias. Tocar não é o único remédio.

Numa pandemia, por exemplo, a aproximação, o toque, pode ser muito perigoso para algumas pessoas!

Para que a alma fique serena, a mente lúcida e os sentimentos equilibrados, o corpo precisa também se mover de outros modos, caminhar, correr, pular, pisar na terra, na grama, sentir o vento no rosto, sorrir, nadar, dançar, brincar, cantar, conversar, escrever. Respeitosamente desfrutar a vida através de atividades sensoriais simples e acessíveis a todos. Se expressar, interagir.

Quem é que está fazendo isso?

Pouquíssimas pessoas...

Por isso, uma multidão de gente doente, entorpecida, despersonalizada, viciada, alucinada, perdida.

É possível sair dessa ilusão e retornar ao essencial da vida?

Sim, claro que é possível. Sempre foi possível.

Colheremos o que estivermos plantando.

A lei da semeadura é invariável.

O que você tem semeado?

 

Rodrigo Fernando Ribeiro

Psicólogo – CRP-04/26033


COLUNISTA


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