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Dom Hugo e a Catedral

Publicado domingo, 14 de julho de 2019





O grande sonho do quarto bispo de Guaxupé, Dom Hugo Bressane de Araújo, em 1941, era a construção da atual e majestosa Catedral de Nossa Senhora das Dores.

Naquele ano, início de seu episcopado, por ocasião das comemorações do 25º aniversário da Diocese de Guaxupé, Dom Hugo já manifestava a sua intenção de tão nobre intuito, a construção da nova Catedral. A sua Pastoral registrada na primeira folha do 4º livro do Tombo da Parochia de Nossa Senhora das Dores do Guaxupé menciona:

“Não será mister gastar longo discurso para convencer a meus diocesanos, não direi já da suma conveniência mas da imprescindível necessidade que tem Guaxupé de possuir uma igreja catedral digna de seu próspero estado atual e glorioso destino que, em sua inefável bondade lhe reserva a Providência”.

No pensamento de Dom Hugo era necessário que se demolisse a velha Catedral, construída na década de 1850, para que naquele mesmo local fosse construída a nova. Em 8 de maio de 1943 a Igreja do Rosário foi elevada à categoria de Catedral Provisória, no período entre a demolição da velha Sé e a sagração do novo templo.

Em 4 de julho de 1943 realizaram-se as últimas cerimônias na velha Catedral, construída por Francisco Pereira do Nascimento, e no dia 12 do mesmo mês teve início a demolição.

Foi escolhido o dia 15 de setembro de 1943, dia de Nossa Senhora das Dores, Padroeira da Cidade, para início das escavações para a construção da nova Catedral, que ficaria a cargo do mestre de obras Carlos Chiraldelli. A maquete ficou exposta no Bazar Casagrande, localizado na Avenida Conde Ribeiro do Valle;

A custo de muito esforço, dedicação e porque não dizer das esmolas, Dom Hugo conseguiu concretizar em pedra e cimento o suntuoso templo.

O gênio forte, e até mesmo autoritário, aliado ao seu prestígio político junto às autoridades constituídas da nação, daquela época, fez com que Dom Hugo entrasse em atrito com Carlos Lacerda, político e jornalista que não poupava desagravo a seus desafetos políticos. Nestas circunstâncias, em 8 de setembro de 1951, a Santa Sé acabou por promove-lo a arcebispo coadjutor de Belo Horizonte, ou seja, era uma forma de promoção na qual Dom Hugo ficava sob as ordens do arcebispo titular, Dom Antônio dos Santos Cabral.

 

O atrito com o deputado federal Carlos Lacerda

Como o custo da construção da Catedral era expressivo, Dom Hugo alegava: “para a obtenção dessa importância serão aclamados todos, grandes e pequenos a darem o seu auxílio”.

Dessa forma, em março de 1951, ele se dirigiu até a capital da República, no Rio de

Janeiro, ocasião em que proferiu um acalorado discurso na Câmara dos Deputados propondo que os deputados apresentassem uma emenda parlamentar no orçamento da união destina a colaborar com as obras da Catedral dizendo: “a bancada mineira na Câmara Federal unânime, há de se empenhar para um auxílio às obras da Catedral de Guaxupé”.

Disse mais: “um mandato parlamentar implica, e de modo vivaz, o dever de amparar o deputado em todas as iniciativas e empreendimentos que representam as mais queridas aspirações do povo. O deputado, assim, tem na sua missão, nas assembleias populares a indeclinável obrigação de fazer com que as leis contenham o próprio gênio do povo manifesto nas suas tendências, nas suas vincas psicológicas e nas suas aspirações mais elevadas”.

Dom Hugo acrescentou: “estas ponderações nos vêm à cogitação ao considerarmos quanto ganharia benemerência pública a bancada mineira na Câmara Federal se empenhasse um movimento no sentido de ser votada, no orçamento para o ano vindouro, uma verba destinada às obras da Catedral de Guaxupé. É das mais numerosas no Parlamento Nacional a representação mineira. Unidos todos os partidos, certamente, seria vitoriosa a iniciativa que soube revelar os sentimentos mineiros, seria uma contribuição ao incentivo da arte sacra e mesmo da educação estética”.

O bispo concluiu: “ai está um apelo que fazemos aos líderes que compõem a bancada mineira. Será um serviço prestado a Minas e, sem dúvida, à Religião Católica, fonte de todo progresso e de grandeza da pátria”.

Como não tinha sido a primeira vez que Dom Hugo solicitava a colaboração dos políticos, e diante da insistência, o então jornalista e deputado federal, Carlos Lacerda, iniciou um verdadeiro bombardeio contra o bispo, inclusive no jornal Tribuna da Imprensa.

Diante disto, e já sabendo que o bispo não iria deixar de todos os meios possíveis para angariar recursos para a construção da Catedral, a Santa Sé entendeu por bem elevar Dom Hugo ao cargo de arcebispo coadjutor de Belo Horizonte.

Não mais estando à frente da Diocese de Guaxupé, o bispo deixaria de continuar a sua peregrinação no sentido de angariar fundos para a conclusão das obras da Catedral. Desta forma, o confronto de Dom Hugo com Carlos Lacerda cessaria certamente.

 

A repercussão em Guaxupé

O confronto entre Dom Hugo e Carlos Lacerda acabou se refletindo em Guaxupé. Naquela época as interferências políticas na vida dos municípios era muito grande. Um pedido de um chefe político municipal junto aos governos, estadual e ou federal, significava força política, fosse o pedido a favor ou contra os interesses da população. Dom Hugo sempre teve o apoio dos políticos locais, o que sem dúvida colaborou na construção da majestosa Catedral.

Acontece que Dom Hugo tinha o apoio de um determinado grupo político, enquanto que Carlos Lacerda integrava outro.

Diante da persistência do bispo, diga-se de passagem, por um motivo justo, Carlos Lacerda passou a atacá-lo no Parlamento e através da imprensa.

Nestas circunstâncias o jornal local, Folha do Povo, em sua edição nº 532, de 08-04-1951, publicou na primeira página uma moção de apoio a Dom Hugo, com o seguinte teor:

 

Dever de Justiça e Gratidão

 “Envolvido, cavilosamente, nas artimanhas de uma campanha política pouco sensata, nosso eminente bispo D. Hugo Bressane de Araújo teve o seu nome augusto e respeitável mencionado desprimorosamente numa nota inserta na “Tribuna da Imprensa”, e assinada pelo seu diretor Sr. Carlos Lacerda.

Todas as classes sociais da cidade, da Diocese e do país estão repudiando, através de expressas manifestações de desagravo, a atitude daquele jornal carioca inevitando nosso eminente Pastor, D. Hugo Bressane de Araújo, figura das mais brilhantes do nosso episcopado, digno de benemerência pelos seus dotes de talento e de bondade e pela sua dedicação às grandes causas de sentido social e católico.

 “Folha do Povo” interpretando os sentimentos da cidade e também, por dever de gratidão traz ao Exmo. Sr. D. Hugo Bressane de Araújo, a sua solidariedade e a certeza de seu filial devotamento e o mais respeitoso afeto.”

Elevação de Dom Hugo a arcebispo

Como dissemos, a elevação de Dom Hugo à condição de arcebispo, em 08 de setembro de 1951, seria uma forma de promove-lo, evitando que o seu embate com Carlos Lacerda continuasse, evitando desgaste político para a Nunciatura Apostólica.

Em virtude do andamento das obras da Catedral e da administração da Diocese, a presença de Dom Hugo frente à Diocese de Guaxupé era imprescindível naquele momento. Apesar do confronto político, diga-se de passagem, por uma causa justa, Dom Hugo tinha o apoio integral dos seus diocesanos.

Com o seu prestígio junto à Nunciatura Apostólica e com o apoio dos diocesanos, Dom Hugo conseguiu, que lhe fosse permitido a sua presença junto da Diocese de Guaxupé como administrador apostólico, até a posse do novo bispo.

Apesar de estar nomeado arcebispo coadjutor de Belo Horizonte, devidamente autorizado por decreto pontifício, Dom Hugo foi empossado no cargo de administrador apostólico da Diocese de Guaxupé em 21 de novembro de 1951.

Embora continuasse como administrador apostólico da Diocese de Guaxupé, em 8 de dezembro de 1951, Dom Hugo foi empossado como arcebispo coadjutor de Belo Horizonte. Depois de empossado no novo cargo, Dom Hugo retorna a Guaxupé para desenvolver suas atividades como administrador apostólico da Diocese de Guaxupé, atuando até 7 de setembro de 1952. Com a posse de seu sucessor na Diocese, Dom Inácio João Dal Monte, no dia seguinte, Dom Hugo se transfere definitivamente para Belo Horizonte.

Segundo notícias não oficiais, em 1953, em virtude de seu gênio forte e autoritário, Dom Hugo entrou em atrito na Arquidiocese de Belo Horizonte, o que lhe causou mais dissabores. Desta forma, em fevereiro do ano seguinte ele seria transferido para Marília, SP, onde ele deveria atuar como administrador apostólico daquela Diocese.

Finalmente, em 1975 ele requer a sua aposentadoria com a dispensa do seu múnus pastoral.

Portanto, coube a Dom Inácio, quinto bispo da Diocese de Guaxupé, a difícil missão de terminar as obras da Catedral. Infelizmente Dom Hugo não participou da sagração da Catedral, em 19 de março de 1960. Porém em janeiro de 1961, ele veio ver de perto a realização de seu grande sonho e do seu ideal, a nova Catedral.

Por ocasião do falecimento de Dom Inácio, em 29 de maio de 1963, Dom Hugo retornou a Guaxupé pra participar dos funerais.




Mais D. Inácio


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